Wednesday, September 13, 2006

ONU pede ajuda da OTAN para deter ópio afegão

Bruxelas, 12 de setembro de 2006

O Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC), Antonio Maria Costa, pediu reforço internacional urgente para que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) consiga controlar a produção de ópio no Afeganistão, especialmente na região Sul.
A declaração foi feita na apresentação da
Pesquisa sobre o Ópio no Afeganistão 2006 realizada anualmente pelo UNODC, divulgada hoje em Bruxelas, na Bélgica. Antonio Maria Costa observou que a produção crescente no Afeganistão é mais acentuada nas províncias ao Sul, como Helmand e Kandahar, que considerou praticamente terras sem-lei. “Na turbulenta região Sul, é preciso reforçar a resposta contra insurgentes e contra o narcotráfico. Só assim será possível pôr fim ao ciclo vicioso drogas que financiam os terroristas e que protegem traficantes”, afirmou Costa. “Gostaria de pedir apoio às forças da OTAN para destruir os laboratórios de heroína, acabar com feiras de ópio ao ar livre e comboios que carregam a droga. Os grandes comerciantes ilegais precisam enfrentar a justiça. Os países da coalizão precisam dar à OTAN os recursos e as obrigações necessárias”, acrescentou o Diretor Executivo do UNODC.
A área de cultivo de ópio no Afeganistão cresceu 59% comparada ao ano passado, alcançando uma área de 165 mil hectares em 2006. A produção de ópio bateu o recorde de 6.100 toneladas – um aumento de 49% comparado com os índices de 2005. O Afeganistão é o maior fornecedor de ópio do mundo.
Somente seis das 34 províncias do país estão livros do ópio. A produção caiu em oito províncias, principalmente no Norte, a região mais estável. Em todo o país, o número de pessoas envolvidas na produção de ópio aumentou quase um terço. Hoje são 2.9 milhões de afegãos envolvidos com o ópio, o que representa 12,6% da população total. “O lucro com a safra deste ano vai ser de mais de 3 bilhões de dólares, enriquecendo um punhado de criminosos e autoridade corruptas”, disse Costa. “O dinheiro também vai levar o resto do Afeganistão a um poço sem-fundo, de destruição de desespero”, acrescentou.
Mais ópio no mercado mundial, mais problemas de saúde
O Diretor Executivo do UNODC alertou aos países que consomem o ópio do Afeganistão, que o salto na produção afegã será fonte de overdoses quando a heroína atingir o mercado de usuários em 2007. “Nossa experiência mostra que esta gigantesca oferta de heroína não leva à diminuição dos preços, mas a doses mais puras da droga. Isso significa – certamente – mais overdoses”, disse Costa. “Temo que quando a heroína chegar aos consumidores, vai matar ainda mais do que as 100 mil pessoas já mortas por overdose no passado recente”, alertou Costa.
Soluções viáveis
Para dar conta do aumento na produção do ópio será necessária uma ação conjunta de afegãos e da comunidade internacional que inclua:
- Fazer com que produtores pensem duas vezes antes de plantar ópio neste outono no hemisfério norte
- Combinar o incentivo de ajuda internacional para o desenvolvimento com o compromisso de erradicar as plantações ilegais. “O objetivo deve ser dobrar o número de províncias livres no ano que vem, e repetir o feito novamente em 2008. É ambicioso. Mas é viável”, disse Costa.
- Aumentar a ajuda financeira voltada ao desenvolvimento. “Os Talibãs chegam a oferecer o dobro do salário de um trabalhador no plantio de ópio. Isso mostra que a ajuda financeira deve aumentar e deve chegar mais rapidamente aos afegãos”, disse Costa.
- Fazer programas de ajuda financeira condicionada a cláusulas de controle do ópio. Quanto mais vigorosamente os líderes das províncias e dos distritos se comprometerem a eliminar o ópio e controlar a corrupção, melhor vai ser a chegada da ajuda financeira externa. Isso vai ajudar produtores pobres e também vai assegurar aos ocidentais que pagam impostos sobre o destino da ajuda humanitária que seus governos enviam. “Se perdermos esse apoio financeiro, os insurgentes terão uma oferta ilimitada de soldados e nenhum recurso estará disponível para combatê-los”, alertou o Diretor do UNODC.
- Levar criminosos a julgamento. É crucial que o governo afegão persiga os traficantes de drogas – e as pessoas envolvidas em corrupção – para poder preencher os 100 leitos da mais nova prisão de segurança máxima, próxima à capital Cabul, em Pul-I-Charki. A captura e redistribuição de artigos ilícitos, inclusive terras e casas, vai reforçar a credibilidade do governo e o apoio popular.
- Incentivar os vizinhos do Afeganistão a controlar o fluxo de voluntários de guerra, de armas e dinheiro para os insurgentes, bem como os produtos químicos necessários para produzir heroína.
- Controlar o consumo de heroína no Ocidente. Os países da coalizão são os maiores consumidores da heroína do Afeganistão e precisam controlar a demanda da droga em seus territórios.
Soluções inviáveis
O Diretor Executivo do UNODC disse que a proposta aparentemente tentadora de transformar o ópio ilegal em morfina para fins médicos não vai curar todos os males. Teria que levar pelo menos uma geração para que o Afeganistão possa garantir a segurança do comércio legal de morfina. Além disso, não há falta de morfina medicinal no mercado, e o preço do ópio ilícito é cinco vezes mais caro que a droga usada para fins de saúde. “Não há fórmula mágica para salvar o Afeganistão”, disse Costa. “Precisamos, sim, insistir na implementação de uma política afegã para o controle de drogas, voltada ao desenvolvimento do país, à segurança nacional e à boa governança”, acrescentou o Diretor do UNODC.
Fonte, http://www.unodc.org/unodc/index.html, UNDOC.
Consultar Executive Summary da Pesquisa sobre o Ópio no Afeganistão 2006, nova publicação do UNODC.